quinta-feira, 6 de maio de 2010

A tristeza perdida - Como a psiquiatria transformou a depressão em moda

Autor: HORWITZ, A. V. e WAKEFIELD, J. C.
Tradutor: MARCOANTONIO, JANAÍNA
Editora: SUMMUS
Assunto: MEDICINA E SAÚDE - PSIQUIATRIA

Leia um trecho do livro

Os estudos antropológicos e sociológicos ajudaram a perpetuar a confusão entre tristeza normal e transtorno depressivo. Nos últimos anos, a depressão se transformou no distúrbio mais tratado por psiquiatras. Ao mesmo tempo, o consumo de antidepressivos — prescritos por médicos de todas as especialidades — aumentou significativamente. Para os professores Allan V. Horwitz e Jerome C. Wakefield, a psiquiatria contemporânea confunde tristeza normal com transtorno mental depressivo porque ignora a relação entre os sintomas e o contexto em que eles aparecem. No livro A tristeza perdida – Como a psiquiatria transformou a depressão em moda (288 p., R$ 64,90), lançamento da Summus Editorial, os autores mostram que a tristeza, comum a todo ser humano, vem sendo tratada como doença, expõem os problemas dessa prática para a saúde e demonstram que essa confusão tem implicações significativas também para a sociedade como um todo.

Com uma lógica implacável, os autores apresentam um argumento persuasivo que tem importantes implicações na saúde pública. Integrando evidências históricas, filosóficas e psicológicas, eles desafiam as noções da psiquiatria sobre o que é normal e o que é patológico. O objetivo é mostrar como os profissionais de saúde mental podem evitar transformar em doença reações emocionais normais aos estressores da vida, ao identificar com precisão aqueles que sofrem de transtornos depressivos genuínos. “Esperamos que o livro encoraje os profissionais a agir e a dialogar entre si e com seus pacientes de forma mais rica, que permita maior compreensão e tratamentos melhores”, afirmam os autores. Para eles, a psiquiatria fez avanços gigantescos nas últimas décadas, e hoje tem muitas técnicas eficazes à disposição para descobrir as causas dos transtornos depressivos.

Trata-se de um livro polêmico que deverá determinar discussões e pesquisas futuras sobre depressão. Resultado de extensa pesquisa e análise sobre o tema, o livro trata, em onze capítulos, de questões como o conceito de depressão, a anatomia da tristeza normal, a depressão no século XX, a importação da patologia para a comunidade, o crescimento dos tratamentos com antidepressivos e o fracasso das ciências sociais em distinguir tristeza de transtorno depressivo, entre outras. “O livro será o divisor de águas no desenvolvimento conceitual da psiquiatria”, afirma Robert L. Spitzer, doutor em Medicina e professor do Instituto Psiquiátrico do Estado de Nova York, que assina o prefácio.

No capítulo sobre o conceito de depressão, por exemplo, os autores mostram a predominância do transtorno depressivo e o crescimento do número de pacientes em tratamento. Segundo eles, estudos indicam que a depressão atinge, a cada ano, cerca de 10% dos adultos nos Estados Unidos e aproximadamente um quinto da população em algum momento da vida. Entre as mulheres, as taxas são ainda mais altas: cerca de duas vezes aquelas encontradas entre os homens. A maioria das pessoas deprimidas é tratada em ambulatórios, onde o tratamento da depressão cresceu 300% entre 1987 e 1997. Em apenas vinte anos, o percentual total da população em tratamento de depressão aumentou 76%. Em alguns grupos, o aumento foi muito maior: o diagnóstico de idosos com depressão, por exemplo, cresceu 107% entre 1992 e 1998. Os autores falam também sobre o crescimento assombroso da prescrição de antidepressivos. Durante os anos 1990, os gastos com esses medicamentos cresceram 600% nos Estados Unidos e, no ano 2000, excediam US$ 7 bilhões anualmente.

O livro traz também as estimativas do custo social da depressão. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2020 a depressão terá se tornado a segunda maior causa de incapacidade no mundo, ficando atrás apenas das doenças cardíacas. A OMS estima que a depressão já é a principal causa de incapacidade em pessoas entre 15 e 44 anos. Nos Estados Unidos, os economistas calculam que a depressão é responsável por um custo de US$ 43 bilhões por ano.

Por fim, os autores demonstram que a tristeza é parte inerente da condição humana e, portanto, não pode ser confundida com transtorno depressivo. “Quando a ciência nos permitir obter mais controle sobre nossos estados emocionais, inevitavelmente teremos de avaliar se a tristeza normal tem características reparadoras ou deve ser banida da nossa vida”, concluem.

Os autores

Allan V. Horwitz, Ph.D., é professor de Sociologia e diretor da área de Ciências Sociais e Comportamentais da Universidade Rutgers. É autor de artigos e livros sobre vários aspectos das doenças mentais, entre eles The social control of mental illness [O controle social da doença mental], The logic of social control [A lógica do controle social] e Creating mental illness [A fabricação das doenças mentais].

Jerome C. Wakefield, Ph.D., é doutor em Serviço Social e professor honorário de Serviço Social da Universidade de Nova York. Também lecionou nas Universidades de Chicago, Columbia e Rutgers. Ele trabalha com a convergência entre a filosofia e as profissões da área de saúde mental e escreveu inúmeros artigos sobre o diagnóstico de transtornos mentais.

(fonte: Summus Editorial)

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